Por Michael Walefi Santos Da Silva
Narcose pelo éter
O éter foi preparado pela primeira vez em 1540 e foi utilizado como agente anestésico geral em 1841. Por ser muito difícil matar um paciente ao administrar-lhe éter em sistema aberto, é que este agente tornou se o anestésico preferido, na metade final do século XIX e metade inicial do século XX.
Propriedades físico-químicas
O etoxietano, também conhecido como éter etílico, ou simplesmente (ÉTER) é uma substância líquida volátil e altamente inflamável. Utilizado inicialmente como anestésico, foi abandonado pelo risco de explosão. É um líquido incolor, com cheiro desagradável e irritante para as vias aéreas, que tem a seguinte fórmula:
Fórmula molecular: C4H10O
Fórmula estrutural: CH3CH2-O-CH2CH3
O peso atômico do éter corresponde a 74, a sua densidade é 0,72 e o seu ponto de ebulição 35°C. O éter líquido vaporiza-se facilmente, absorvendo calor.
Os vapores de éter são mais pesados que o ar. Enquanto 1 litro de ar pesa 1,3 g, 1 litro de vapor de éter pesa 3,3 g; isto é, pesa 2,5 vezes mais que o ar atmosférico.
O éter é altamente inflamável e explosivo, quando misturado com o ar e com oxigênio em concentrações elevadas. As misturas de oxigênio e éter que contenham mais de 2% de éter, podem explodir ao contato duma chama ou centelha. As misturas de oxigênio e éter são sempre explosivas, quando as concentrações do éter ultrapassam 1,5%. É recomendado vaporizá-lo com o ar atmosférico em concentrações inferiores a 2%.
O éter anestésico deve ser puríssimo, entretanto, é necessário juntar-lhe um pouco de álcool etílico (até 4%) para favorecer a sua conservação.
O éter decompõe facilmente libertando aldeídos e peróxidos, que são substâncias tóxicas desprovidas de qualquer valor anestésico. Esta decomposição é favorecida pela ação do ar, da luz e do calor. O éter deve ser estocado em vidros escuros ou em latas revertidas duma película de cobre, conservadas em lugares frescos e abrigadas da luz. A presença dos peróxidos pode ser denunciada pela cor amarelada que adquire, quando se lhe junta iodeto de potássio. A presença dos aldeídos pode ser denunciadas pela adição da solução de Nessler, que torna-o turvo ou amarelado. Outras impurezas encontradas são: álcool, ácido sulfúrico, ésteres etílicos e os mercaptans.
Estas impurezas provoca, taquicardia, hipertensão arterial e aumentam a incidência dos vômitos no período pós-operatório.
O éter é solúvel na água e no óleo, Enquanto 100 ml de água dissolvem 1546 ml de vapor do éter, 100 ml de óleo dissolvem 5000 ml. Isso indica que a solubilidade do éter no óleo é maior que a solubilidade na água; a relação da solubilidade óleo-água do éter, corresponde à razão 3/2.
Os vapores do éter ao nível do alvéolo são rapidamente absorvidos pelo sangue, que os distribui por todo o organismo, indo depositarem-se nos tecidos gordurosos e lipídicos com maior capacidade de absorção. À profundidade da anestesia depende da concentração do éter no sangue, a qual; por sua vez, está dependente da concentração etérea na mistura gasosa inalada. Assim, os estados de -anestesia superficial: requerem concentrações sanguíneas, variáveis com os indivíduos, entre 40 a 110 mg por cento; enquanto os estados de anestesia profunda (indesejável) necessitam concentrações sanguíneas, variáveis entre 120 a 140 mg por cento.
Todas essas concentrações podem ser obtidas com a administração de misturas gasosas, suficientemente oxigenadas, cujas concentrações de éter variem entre 4 à 15%. Isso indica que o anestesista não pode orientar-se durante a manutenção da anestesia pelas concentrações nas misturas gasosas inaladas, mas sim, pelos sinais clínicos dependentes da intensidade da intoxicação etérea.
O éter não se modifica no organismo; elimina-se quase totalmente pelos pulmões (85 a 90%), os outros 135 a 10% eliminam-se pela pele, urina e secreções do trato digestivo.
Farmacodinâmica
Ação sobre o sistema nervoso:
A ação do éter sobre o sistema nervoso central, caracteriza-se por inibição progressiva da
córtex cerebral, com libertação da atividade dos núcleos da base, para em seguida deprimir
progressivamente esses mesmos núcleos, até ser atingida a inibição dos centros pontino-
bulbares, no mais elevado gráu da intoxicação etérea. Durante a instalação da intoxicação etérea,
produzem-se estados que vão desde a analgesia à intoxicação bulbar mortal, passando por
períodos de excitação e anestesia cirúrgica.
Estudando minuciosamente os estados, subdividiu-o em três planos, a saber:
Plano 1: Pré-amnésia — Pré-analgesia
Plano 2: Amnésia total — Analgesia parcial
Plano 3: Amnésia total — Analgesia total
A perda da consciência dá-se na passagem do I estado para o II estado.
Qualidades e defeitos
a) São qualidades apreciáveis do éter;
b) Facilidade de fabrico;
c) Custo relativamente baixo;
d) Facilidade de estocagem;
e) Potência anestésica elevada; o poder relaxante; a boa margem de segurança; inocuidade para os órgãos, desde que seja evitada a intoxicação e que seja mantida boa ventilação pulmonar;
f) Facilidade de eliminação pela via’ respiratória; possibilidade de administrá-lo, associado ao
oxigênio e ao ar atmosférico, nas concentrações que desejarmos; anestésico de grande eleição
para os infantes, as crianças e os velhos.
São defeitos ponderáveis:
a) A indução é desagradável e demorada; causa hiper-secreção do trato digestivo e das vias
aéreas; por vezes produz estados de excitação severa ou espasmos que alteram profundamente a
respiração, criando estados de hipóxia transitória;
b) Ao vaporizar-se ocupa grande volume, de maneira que, se o paciente inala apenas ar com
vapores de éter em concentrações que produzem anestesia cirúrgica, a atmosfera respirada é
hipoxiante;
c) Tendo cheiro desagradável e potência anestésica elevada, pode prejudicar o anestesista e os
cirurgiões quando é empregado em sistemas abertos;
d) A anestesia prolongada, com respiração espontânea, altera o metabolismo e provoca estados
de acidose;
Aproveitando as vantagens que oferece para a manutenção duma narcose pouco tóxica, conseguimos eliminar a maioria dos seus defeitos administrando-o, misturado ao oxigênio e ao ar atmosférico, em sistema aberto, sob respiração controlada pelo pulmo-ventilador.
Referências:
Revista Brasileira de Anestesiologia – Ano 12 – No 2 – Agosto de 1962. Narcose Pelo Éter, Clorofórmio Ou Halotano, Em Sistema Aberto, Com Respiração Controlada Pelo Pulmo-Ventilador. Disponível em: https://www.bjan sba.org/article/5f9dbdb18e6f1a8a098b4646/pdf/rba-12-2-130.pdf. Acessado em: 14 de outubro de 2023.