ARGILA ESMECTITA APLICADA A SISTEMAS ALTERNATIVOS DE TRATAMENTO DE EFLUENTES AQUOSOS DOMÉSTICOS

ARGILA ESMECTITA APLICADA A SISTEMAS ALTERNATIVOS DE TRATAMENTO DE EFLUENTES AQUOSOS DOMÉSTICOS

Por João Paulo Silva

Segundo ARCHELA et. al, 2003, entende-se como efluentes domésticos as águas residuais provenientes das mais variadas atividades do cotidiano humano, contaminadas, e que são provenientes das residências, hotéis, casas, bares, restaurantes, clubes, comércios como supermercados, salões de beleza, e centros comerciais. Os efluentes domésticos se não forem devidamente tratados, contaminam os cursos d’água principalmente por bactérias presentes nas urinas e fezes humanas, e por substâncias orgânicas de difícil degradação, como sulfônicos e tensoativos presentes no detergente, por exemplo.

Devido aos problemas e perdas ambientais e humanas ocasionadas pela destinação incorreta dos efluentes, a Lei Federal 11.445/07 conhecida como a Lei do Saneamento Básico, garante como direito de todo cidadão o acesso a água potável, tratamento e coleta de esgoto, drenagem e manejo de águas pluviais, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos (LEI FEDERAL 11.445/07).

Porém, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) referentes ao ano de 2016, das 206,08 milhões de pessoas que viviam no território brasileiro, de acordo com os dados do SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento) 2018, apenas 166,8 milhões de pessoas tinham acesso a agua tratada e 100 milhões de pessoas ainda não tinham acesso a coleta e tratamento de efluentes.

O esgoto se não é tratado e jogado diretamente na natureza, além de acarretar uma série de problemas ambientais, como morte de fauna, flora e microbiota aquática, ainda é um importante vetor de transmissão e disseminação de doenças, como a cólera, a hepatite A, esquistossomose, giardíase, entre outras, que se não tratadas, podem gerar complicações sérias e danosas ao futuro e até mesmo levar a óbito, afetando assim, direta e indiretamente a economia e produtividade da comunidade (TUROLLA, 2002).

Com os dados mostrados acima, o presente artigo tem por objetivo principal apresentar um estudo referente a elaboração de um sistema alternativo de tratamento de efluentes domésticos que funciona como uma caixa de gordura, que já está presente em grande parte das residências, composto principalmente de filtros de areias, argila esmectita, carvão ativado e pedras, que seja capaz de eliminar principalmente tensoativos e gordura, tendo como produto final uma água de reuso que possa ser utilizada na irrigação de plantas, lavagem de quintal, carro e garagem. Respondendo assim, perguntas como: é economicamente viável? Haverá uma boa aceitação por parte da população? Esse sistema alternativo será capaz de eliminar as impurezas da água no que diz respeito a gorduras, óleos e demais impurezas?

REFRENCIAL TEÓRICO

Efluentes
Os rios, mesmo sofrendo modificações em sua característica após receberem uma carga poluidora, eles
tendem a se reestabelecer através da autodepuração, que é a capacidade do curso d’água receber o efluente e gradativamente retornar ao seu estado original (ANDRADE, 2010).
De acordo com COLONESE, 2017, os efluentes são despejos provenientes das etapas tanto de um processo produtivo, quanto de atividades do cotidiano humano. Para os despejos industriais, dá-se o nome de efluentes industriais, e seu tratamento e descarte correto são de responsabilidade da própria empresa. Já os despejos provenientes das atividades cotidianas do ser humano, dá-se o nome de efluentes domésticos e a Federação, os Estados e Municípios são os responsáveis pela coleta e
tratamento desse efluente.

Tipos de efluentes

Os tipos de efluentes tem uma grande variação. Podem ir desde resíduos sólidos a resíduos gasosos e todos eles, sejam de origem industrial ou de origem domésticas, provocam um grande impacto nos cursos d’água se não forem descartados e tratados corretamente (SCHIAVOLIN, 2001).

– Efluentes sólidos
A maior parte dos agentes poluidores lançados nos cursos d’água, estão no estado sólido proveniente
principalmente dos lodos, que são os resíduos de Estações de Tratamento de Efluente Industriais. Em sua grande maioria, esses lodos tem uma alta concentração de patógenos nocivos à saúde humana além de elevada concentração de resíduos tóxicos e metais pesados (SCHIAVOLIN, 2001).
Os elementos mais comumente encontrados nos rios e mananciais na forma de sólidos dissolvidos são, o
chumbo, o arsênio, cádmio, cromo, mercúrio e prata (que são os metais pesados), ácidos graxos, os hidrocarbonetos e elementos organoclorados. A maior parte desses elementos poluidores sedimentam-se no fundo dos ambientes aquáticos (SCHIAVOLIN, 2001).

– Efluentes líquidos
Alguns dos efluentes lançados nos cursos d’água são os efluentes líquidos, onde os contaminantes principais são os compostos orgânicos, como os hidrocarbonetos não complexos, compostos oxigenados não polares, éteres, cetonas, ésteres, orgânicos aromáticos, como, o benzeno, o tolueno e o xileno, além de alguns tipos de fenóis, pesticidas e compostos halogenados (SCHIAVOLIN, 2001).

Os efluentes aquosos são considerados os maiores vilões no que diz respeito a poluição de cursos d’água (CTA MEIO AMBIENTE, 2011). E para que haja o tratamento correto desses resíduos, é necessário que haja a identificação e o conhecimento prévio do tipo de efluente que se deseja tratar, bem como a norma que se deve seguir para o despejo do mesmo no meio ambiente (COLONESE, 2017).

– Efluentes gasosos
Nos rios e mananciais, há a presença de gases dissolvidos na água para a manutenção da vida de peixes e algas fotossintetizantes. Na água deve-se ter de acordo com o CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), no mínimo um nível de 5 mg/L de oxigênio. Porém, quando há lançamento de qualquer poluente orgânico, o nível de oxigênio tende a cair para degradar biologicamente o material. Quando esse nível de oxigênio cai, a tendência é que haja a mortandade de peixes e algas (SCHIAVOLIN, 2001).

A mortandade de peixes se dá também pelo aumento da temperatura da água devido ao lançamento de efluentes térmicos, bem como pelo lançamento por parte das indústrias de nitrogênio supersaturado na água e pela dissolução de hidróxido de enxofre na água, que além de ser tóxico para a fauna e a flora aquática é esse gás que confere ao efluente o odor característico de ovo podre.

Saneamento Básico no Brasil

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), o saneamento básico pode ser definido como o controle dos fatores do meio físico do homem que exercem ou podem exercer algum efeito nocivo sobre seu bem-estar físico ou mental. As ações promovidas por ações de saneamento básico têm como principal objetivo alcançar a salubridade ambiental, que é o estado de saúde normal do ambiente urbano e/ou rural (GUIMARÂES et. al, 2017).

O saneamento básico no Brasil consolidou-se efetivamente no século XX, a partir da década de 1970, com o início do PLANASA (Plano Nacional de Saneamento) que tinha o objetivo de centralizar as decisões a serem tomadas e cobrar dos estados imposições de campanhas estaduais sobre serviços estaduais. Com a extinção do PLANASA, as questões sobre saneamento básico ficaram pouco resguardadas até 2007 com a LEI 11 445. Conhecida como a Lei do Saneamento Básico, esta estabeleceu as diretrizes nacionais para saneamento Básico e criou o Plano Nacional do Saneamento Básico (LEONETTI, et, al 2011).

O saneamento básico inclui 4 serviços básicos e importantíssimos para a garantia da saúde humana. São
eles: serviço de tratamento de água de acordo com os padrões de potabilidade, o serviço de coleta e tratamento de esgotos, drenagem e manejo de águas pluviais e coleta e tratamento de resíduos sólidos (PORTAL SANEAMENTO BÀSICO, 2018).

Segundo dados de 2013 da ANA (Agência Nacional de Águas), em conjunto com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), dos 5 700 municípios brasileiros, apenas 43,45 % desses tinham coleta e tratamento dos efluentes domésticos, sendo que nas cidades do norte brasileiro esse número de coleta e tratamento chegam em alguns lugares a apenas 0,7 % (PORTAL ANA, 2013).

De acordo ainda com a ANA 2013, as 169 780 605 pessoas que moram nas áreas urbanas contribuem com cerca de 15 milhões de toneladas de DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio) por dia. Todo esse efluente gerado e descartado de maneira incorreta na natureza faz com que 1 a cada 3 municípios brasileiros relatem casos de doenças epidêmicas decorrentes da falta de tratamento e descarte adequado dos esgotos. Entre essas doenças destacam-se a dengue, as verminoses e diarreias. Especialistas destacam ainda que a cada R$ 1,00 investido em políticas de saneamento básico, economiza-se cerca de R$ 4,00 em saúde. Anualmente, o Brasil perde cerca de 56 milhões de reais com gastos com tratamento de doenças epidêmicas decorrentes da falta de salubridade nas cidades (PORTAL SANEAMENTO BÀSICO, 2018).

De acordo com o INSTITUTO TRATA BRASIL, 2018, para que o Estado universalize o tratamento do esgoto, seriam necessários ainda um investimento de cerca de 395 bilhões de reais, porém, com menos de 4 anos após essa universalização devido a diminuição dos gastos da União com saúde e a renda produzida no setor, a arrecadação para os cofres públicos chegariam a cerca de 1,5 trilhão de reais, gerando um saldo positivo de cerca de 1,1 trilhão de reais. Esses dados demonstram que não só esse valor é capaz de arcar com todos os gastos do investimento, como é capaz de gerar um lucro cerca de 3 vezes maior do que o gasto.

PROPRIEDADES DOS MATERIAIS PARA A CRIAÇÃO DO SISTEMA ALTERNATIVO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES

O sistema alternativo de tratamento de efluentes tem como objetivo principal contribuir para levar mais saúde a população que não tem acesso a coleta e tratamento de efluentes, trazendo para a família uma melhor qualidade de vida, reduzindo a quantidade de animais decorrentes da falta de tratamento de efluentes e reduzindo as doenças epidêmicas causadas por água contaminada. Para isso, o sistema será construído levando em consideração alguns tipos de materiais com poder de adsorção.

Argila emectita

A argila é um material natural formado essencialmente por silicatos hidratados de alumínio, ferro e alumínio de granulometria fina, cerca de 2 μm. Mineralogicamente, as argilas podem ser do tipo caulinita, ilita ou esmectita e o
que as diferencia basicamente são os 4 tipos de estruturas e as substituições, que podem ocorrer em sua estrutura levando em consideração o alumínio, o
magnésio, o silício e o ferro (OLIVEIRA, et. al, 2016). As argilas esmectitas possuem uma grande afinidade com os compostos orgânicos e muitos estudos são feitos quanto ao uso na adsorção e retenção de rejeitos industriais, tratamento de efluentes industriais e tratamento de águas contaminadas (OLIVEIRA, et. al, 2016).

Na indústria, esse tipo de argila é empregue em fertilizantes, catalisadores, areia de fundição, tijolos, agentes descorantes e clarificantes de óleos, gorduras e tintas, adsorventes e na indústria de polímeros e elastômeros. Esse alto emprego na indústria deve-se principalmente ao fato de que esse material apresenta características como inchamento, plasticidade, propriedades reológicas e coloidais, e de adsorção (ZADINELO, 2014).

Propriedades do carvão ativado

O carvão ativado é um excelente adsorvente que pode ser obtido a partir de ossos, materiais como madeira, endocarpo de coco, endocarpo de nozes, sementes, polímeros sintéticos e outros. É um material carbonáceo com boa superfície específica, poroso e que proporciona uma área superficial interna que se estende de 80 m2/g a 1200 m2/g (ROUQUEROL, 1991).

Ele possui características como forma, tamanho de partícula, volume de poro, área superficial, estrutura do microporo, distribuição de tamanho de poro e características físicas e químicas da superfície. Todos esses parâmetros podem ser modificados, obtendo-se diferentes tipos de carvão com características melhoradas, o que lhes confere maior capacidade de adsorção – tanto em fase líquida quanto gasosa (PIS, 1962 e WANG, 2013).

O carvão ativado pode ser utilizado não apenas como adsorvente, mas também como catalisador ou suporte. Na área de tratamento de efluentes o carvão ativado é usado na adsorção em fase líquida, por exemplo, na adsorção de moléculas orgânicas que causam a mudança de sabor, odor e toxicidade desses efluentes (LETTERMAN, 1995).

METODOLOGIA

Calcinação da argila

A calcinação de acordo com OLIVEIRA, et. al, 2016, é um método em que se submete o material sólido a temperaturas muito elevadas, entre 600 e 1 000 °C, com o objetivo principalmente de retirar impurezas, remover substâncias voláteis do material, retirar água e melhorar a condutividade elétrica.

Para a elaboração do protótipo, a argila esmectita sofrerá esse tratamento térmico principalmente com o objetivo de se retirar a água do material para assim, aumentar sua superfície de contato e melhorar a adsorção das impurezas dos efluentes pelo material.

Antes da calcinação, levou-se toda a amostra que estava na forma de pequenos pedregulhos a estufa a 135°C para que fosse possível realizar a trituração em partes mais finas para o início da calcinação.

No processo de calcinação, levou-se a amostra em cadinhos a temperatura de 800 °C na mufla durante 60 minutos. Verificou-se o material calcinado na mufla de 15 em 15 minutos para que não houvesse perdas e queima do material.

elaboração do protótipo

Para a elaboração do protótipo, escolheu-se um recipiente de polietileno de alta densidade, quimicamente inerte, com capacidade total de 19 L e montou-se o filtro seguindo a ordem de que os materiais com maior granulometria ficaram no fundo e os materiais de menor granulometria ficaram no topo do sistema.
Sendo assim, fez-se uma camada de cerca de 5 centímetros de:

  • brita grossa;
  • brita fina;
  • areia higiênica para gatos em flocos
  • carvão ativado em flocos;
  • areia lavada do tipo média;
  • areia lavada do tipo fina;
  • carvão ativado em pó, e;
  • argila esmectita calcinada.

Na base do recipiente, colocou-se uma espécie de torneira que no primeiro momento servirá para retirar-se a água de reuso e, posteriormente, será utilizada para fazer a manutenção do sistema. Por esse orifício será realizada a retrolavagem com mangueiras e/ou equipamentos de hidrojato de alta pressão.

Normalização dos frascos para coleta de amostras

A normatização dos frascos para a coleta de amostras foi feita de acordo com a metodologia empregada para cada tipo de teste laboratorial a ser feito, tanto na amostra bruta quanto a ser coletada após a passagem pelo sistema.

Os frascos escolhidos para a coleta das amostras foram os frascos de polietileno de alta densidade, pois são frascos quimicamente inertes e que suportam temperaturas de até 130 °C.

Para as análises, foi necessário a lavagem dos frascos com detergente neutro, esponja e escova. Lavou-se todos os frascos 3 vezes cada um com detergente e água potável. Por se tratar de frascos de 2 L, após a lavagem, acrescentou-se até a metade do volume com água destilada, deixando por 10 minutos em descanso e levou-se os frascos durante 20 minutos na estufa a uma temperatura de 120°C para esterilização.

Passado esse tempo, acrescentou-se aos frascos uma solução de 5 mL de HCl a 0,1 mol/L, fechou-se a tampa e agitou a solução em todo frasco, para posterior lavagem com água destilada e esterilização na estufa a 120°C durante 30 minutos.

Análise Microbiológica – Para a análise microbiológica, acrescentou-se aos frascos uma solução de 0,8 mL de EDTA e 0,9 mL de tiossulfato de potássio, deixando-os nos frascos.
Análise de pH e Turbidez – Para a análise microbiológica, acrescentou-se aos frascos uma solução de 10 mL de ácido nítrico e 9 mL de ácido clorídrico, deixando-os nos frascos.

Coleta de amostras

Para que fosse possível fazer testes sobre a qualidade, utilizou-se uma amostra de 6 L de água do Rio das Velhas na região do Município de Santa Luzia. Desses 6 L de água, 3 L serão utilizados para testes laboratoriais e 3 L serão utilizados para testar o protótipo.

A escolha da bacia do Rio das Velhas se deu devido ao fato de que, de acordo com o Atlas de Qualidade das Águas de 2007, elaborado pela Universidade Federal de Viçosa em parceria com o projeto Manuelzão da Universidade Federal de Minas Gerais, nesse trecho, as águas do rio são classificadas como muito ruins, de acordo com o IQA (Índice de Qualidade das Águas) elaborado em 1970 nos Estados Unidos e utilizado hoje no Brasil para avaliar a qualidade da água bruta visando seu uso para o abastecimento público após tratamento. Para classificar as águas leva-se em consideração os parâmetros de Oxigênio dissolvido, coliformes termotolerantes, pH, DQO, temperatura, fósforo, nitrogênio, turbidez e resíduos com uma alta incidência de elementos tóxicos provenientes principalmente de indústrias localizadas no entorno do município (ATLAS QUALIDADE DAS ÁGUAS, 2007).

Coletou-se a amostra no município de Santa Luzia próximo as Centro Histórico da cidade, em um ponto de fácil acesso ao Rio. Com o auxílio de uma corda e um balde, coletou-se as amostras e acondicionou-as a temperatura ambiente e longe da presença de luz.

Testes laboratoriais

Para a obtenção dos resultados quanto a eficiência do sistema alternativo de tratamento de efluentes, foi necessário a realização de testes laboratoriais tanto da amostra da água coletada no Rio das Velhas quanto da amostra da água depois de filtrada.

Os testes realizados incluem testes de verificação de qualidade das águas.

ECOKIT – Os testes para obtenção da quantidade de oxigênio dissolvido, ortofosfato, nitrito, nitrato, amônia e pH, foram feitas com o ecokit. O ecokit é um equipamento desenvolvido para fazer testes rápidos de controle de água doce e água salgada. São análises feitas com os reagentes específicos do kit e comparando o resultado com a cor da cartela específica, para cada parâmetro. A primeira dosagem a ser testada foi a amostra de oxigênio dissolvido e comparou-se com a cor da cartela do manual. Os outros parâmetros como as dosagens de ortofosfato, nitrito, nitrato, pH e turbidez foram feitos em
seguida. O último teste feito foi para análise microbiológica que verifica a presença, ou seja, não quantifica, de coliformes fecais e de Escherichia coli. Nesse caso, para a obtenção do resultado desse teste, é necessário que a amostra fique encubada em tempo entre 18 e 24 horas, a uma temperatura de no máximo 25°C (adaptado de SANTOS et. al, 200-?).

RESULTADOS

Calcinação da argila

As argilas foram levadas a mufla conforme descrito no item 4.1 a 800 °C. Essas amostras de argilas deveriam ficar na mufla, durante 60 minutos, porém, observou-se que com cerca de 25 minutos que essas amostras passavam por esse processo, as mesmas ficavam com um aspecto acinzentado, típico de quando o material é incinerado.
Devido esse problema, e como o objetivo principal da calcinação da argila não era o da redução de massa, mas sim, o de aumentar os sítios disponíveis para adsorção do efluente por meio da retirada total da água da amostra, decidiu-se utilizar a chapa aquecedora a 360°C durante 55 minutos, agitando a amostra constantemente para a retirada total da água. Durante esse processo, observou-se que o vapor d’água saindo da amostra molhou toda a parede do béquer. Ao findar-se esse fenômeno, retirou-se as amostras da chapa quando não se observou a formação de gotículas de água. As amostras de argila, adquiriram uma coloração esbranquiçada após a retirada total da água.

Elaboração do protótipo

O protótipo foi elaborado observando a granulometria dos materiais que compõem o filtro. O primeiro protótipo foi elaborado seguindo a mesma altura para cada material, porém, o que se estava observando é que a amostra final da água, talvez, por não ter a quantidade adequada de brita, chegava a torneira com bastante carvão ativado e partículas de areia.
Observando-se isso, entendeu-se que se colocássemos uma quantidade maior dos materiais de granulometria mais grosseira, esses materiais mais finos seriam retidos entre essas camadas, e a água residuária seria obtida com uma coloração não tão escura e não carrearia partículas de areia nem de carvão ativado. Sendo assim, colocou-se cerca de 7,5 cm de brita, alternando camadas entre grossa e fina, e os demais materiais de granulometria mais grosseira, 5 cm e as granulometrias mais finas, cerca de 4 cm. O que observou com essa nova disposição dos materiais foi que a amostra chegava a torneira bem mais clara, sem apresentar partículas de areia, argila ou carvão ativado. Como as camadas ficaram muito espessas, a quantidade de amostra coletada foi de 3L, observou-se uma dificuldade muito grande da amostra chegar até a torneira. Optou-se, portanto, por diluir a amostra em 1:1. Para cada 3L de amostra, adicionou-se 3L de água comum.

Testes laboratoriais

As amostras foram coletadas no dia 09 de novembro de 2018, em um dia bastante chuvoso, com o rio cheio e com água corrente. Os testes laboratoriais, portanto, foram feitos em 16 de novembro de 2018.
Na tabela 1, abaixo, tem-se os resultados obtidos com o ecokit.

Na tabela 2, tem-se os resultados obtidos após a passagem da amostra pelo protótipo.

Para o entendimento dos resultados obtidos, utilizou-se como parâmetro de comparação os dados do IQA, que parametriza a qualidade das águas.

Nos rios, a quantidade de oxigênio dissolvido é o que garante a vida e reprodução de peixes, algas e bactérias naturais dos cursos d’água.

Segundo o IQA (Índice de Qualidade das Águas), rios com quantidade de até 6 mg/L de oxigênio dissolvido, suporta a desova de peixes e valores acima de 7 mg/L de O.D., os peixes já conseguem se reproduzir mais facilmente e suporta atividade nesse rio.

Ao observar os resultados obtidos, percebe-se que após a passagem pelo protótipo, há um aumento da quantidade de oxigênio dissolvido na água, que mesmo não sendo o valor ideal de O.D., já é possível que os peixes se reproduzam nessa água.

A quantidade de amônia nas águas, diz respeito a alimentação e decomposição de algas e peixes. O ideal, é que esse parâmetro não ultrapasse 1 mg/L.

Observou-se que a amostra bruta apresentou um valor considerado mínimo para a manutenção da vida aquática, e após a passagem pelo filtro, no entanto, observou-se que a quantidade de amônia presente na amostra reduziu em 50%, ficando em 0,5 mg/L.

Atribui-se essa redução, principalmente, devido a presença de carvão ativado no filtro e pela presença da areia de gato que tem em sua composição a zeólita, que é um composto muito eficiente em fazer a captura e filtragem da amônia.

Quanto ao pH, o que se observa é que a amostra bruta estava com um pH muito ácido. Isso se deve ao fato de que por ter sido uma amostra coletada em área urbana, a quantidade de poluentes é muito grande, e esses poluentes têm uma tendência a deixarem o meio mais ácido, prejudicando assim, a vida aquática. O ideal para que haja vida nos rios, é que a faixa de pH esteja entre 6 e 8, e após a passagem da amostra pelo filtro, obteve-se um valor de 8 para o pH. Isso se deve ao fato, principalmente, de que a argila tem um lato poder de alcalinidade, conferindo a água residuária, um valor mais alcalino.

Os nitratos são encontrados na água de forma natural, principalmente provenientes de tecidos animais de pela morte de plantas e algas, por exemplo. Devido à falta de reagentes, só foi possível avaliar a quantidade de nitrato e nitrito da amostra da água bruta. Nesse caso, o valor chegou a 0,09 mg/L. Esse resultado indica, que a quantidade de nitrato e nitrito na água, não desencadeiam a proliferação de plantas, o que é bom, já que a eutrofização de cursos d’água está intimamente ligada a quantidade de nitratos disponíveis na água.

Os fosfatos são os que podem ocasionar uma superpopulação de algas na superfície dos rios, que contribuem para diminuir o teor de oxigênio dissolvido na água. Os fosfatos nos efluentes são provenientes principalmente dos surfactantes dos detergentes, por exemplo.

Na amostra bruta, obteve-se um valor de 0 mg/L de ortofosfato. Porém, como as amostras foram coletadas em um dia chuvoso, o que pode ter ocorrido é que a chuva tenha diluído o ortofosfato.

A questão de a amostra ter sido analisada 7 dias após sua coleta, pode ter ocasionado em erros nas análises. O que se esperava, por essas amostras serem de uma das áreas mais populosas de Santa Luzia, com famílias morando nas margens do Rio, sem acesso ao tratamento de efluentes, era que os valores se aproximassem mais dos valores obtidos pelos órgãos ambientais que classificaram esse trecho do curso d’água como qualidade ruim.

Testes sensoriais

Por falta de equipamento e aparelhagem, não foi possível fazer os testes de cor, turbidez e análise microbiológicas.

Pelos números obtidos pelo teste com amônia, pode-se chegar a uma dedução de que há a presença de efluentes domésticos na água, porém, devido aos resultados inconclusivos por falta de reagentes de parâmetros como: ortofosfato para a amostra filtrada e nitrito e nitrato da mesma, não foi possível concluirmos se há ou não coliformes fecais na água analisada.

Quanto a coloração, a amostra tinha visivelmente sólidos em suspensão e dissolvidos. Apresentava uma coloração avermelhada, típica de quando se aumenta o volume dos rios pela ação da chuva. Ao sair do filtro, no entanto, o que se observou-se foi uma água esbranquiçada e sem partículas sólidas visíveis.

Quanto ao odor, não foi observado um odor muito forte da amostra bruta, porém, ao passar pelo filtro, não foi observado nenhum tipo de odor na água residuária.

CONCLUSÃO

A partir dos dados apresentados no decorrer deste estudo e com a elaboração dos testes, conclui-se que o filtro com argila esmectita, tem um forte potencial em se tornar um filtro alternativo para as comunidades que não possuem um sistema de tratamento de efluentes.

Quanto à questão de reutilizar a água, não foi possível concluir, já que não foram feitos testes de análises microbiológicas, nem a questão da turbidez e coloração da água.

A combinação de valor de pH entre 6 e 9 e a quantidade de amônia abaixo de 1mg, já é o suficiente para que se conclua que a caixa alternativa de tratamento de efluentes, é capaz de pelo menos, devolver ao meio ambiente, uma água com uma quantidade de oxigênio dissolvido não muito ruim e um valor de amônia e pH bons para que haja a manutenção da vida aquática.

Quanto a aceitação da população, através das entrevistas realizadas em setembro de 2018, na comunidade do bairro Ouro Minas com as pessoas que moram as margens do córrego e convivem com o esgoto a céu aberto 24 horas por dia, pode-se se concluir, que a aceitação é boa. De 9 pessoas entrevistas, apenas 1 não demonstrou interesse no sistema, devido exatamente a sua casa estar localizada na parte regulamentada do bairro, e portanto, ele e sua família terem acesso ao tratamento de efluentes.

Quanto aos resultados da amostra de água bruta do rio não terem ficado dentro do padrão esperado, conclui-se que a ação da chuva e a demora em fazer as análises laboratoriais, houve uma perda das propriedades organolépticas da água.

As amostras durante o período que ficou aguardando os testes, ficaram acondicionadas em local longe da luz solar, e com a temperatura de sua retirada do rio mantida.

Porém, testes como fósforo e oxigênio dissolvido, o ideal é que o tempo entre coleta e teste não ultrapasse 24 horas.

Quanto a dificuldade da filtragem da água devido as camadas estarem muito espessas, o que se espera é que saindo do ambiente de testes, a quantidade de efluentes passados por minuto, seja capaz de diminuir a taxa de acúmulo na superfície do filtro.

Com todos os argumentos expressos acima, percebe-se que serão necessários a conclusão de mais alguns testes.

REFERÊNCIAS

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