Por Marcella Uxa
Existem evidências de que os cuidados com a saúde bucal são
empregados a mais de quatro mil anos. No Egito antigo foi identificado o primeiro
creme dental que se tem registro, uma mistura de pedra-pomes pulverizada e
vinagre era aplicada com o auxílio de ramos de plantas com objetivo de se
conservar os dentes. Anos mais tarde, por volta do século I d.C, os romanos
modificaram a mistura utilizada pelos egípcios acrescentando ingredientes como
mel, sangue, carvão e ossos moídos com o objetivo de clarear os dentes.
Foi apenas em 1850 que o cirurgião-dentista Washington Wentworth
Sheffield desenvolveu o creme dental similar ao utilizado nos dias de hoje.
Primeiramente, o creme dental de Sheffield era comercializado em pó e
posteriormente sua forma foi alterada para a pastosa e passou a ser vendido e
embalado em tubos flexíveis.
Mas, afinal, como o creme dental conserva os dentes?
A nossa boca é um ambiente propício para o desenvolvimento de
bactérias, pois a temperatura é constante em aproximadamente 36°C, é úmida
e possui fluxo constante de matéria orgânica, que fornece os nutrientes
necessários para os microrganismos. As bactérias metabolizam o açúcar
presente nos alimentos, se multiplicam e formam um biofilme chamado placa
bacteriana, que se deposita sobre os dentes. A fermentação do açúcar pelas
bactérias forma alguns ácidos, como o ácido lático, o ácido acético e o ácido
fórmico.
Os dentes possuem uma camada externa chamada esmalte (Figura 1),
essa camada é constituída principalmente por um composto iônico pouco solúvel
em água, a hidroxiapatita (Ca5(PO4)3OH).
![](https://mannerjr.com.br/wp-content/uploads/2023/11/estrutura-do-dente.webp)
Apesar da pouca solubilidade, uma pequena quantidade deste composto
se solubiliza na boca, em um processo chamado desmineralização, e em
seguida ocorre o processo inverso, a mineralização. Essas duas reações estão
em equilíbrio de acordo com a equação a seguir:
![](https://mannerjr.com.br/wp-content/uploads/2023/11/Anotacao-2023-11-21-122350.png)
O ácido formado pela metabolização do açúcar consome os íons OH- formados,
isso altera o equilíbrio dessas reações e favorece a desmineralização. Com a
reação de desmineralização favorecida, o esmalte é consumido em maior
velocidade que sua reconstituição e ocorre a formação das cáries dentárias. Os
cremes dentais agem de forma a favorecer a reação de mineralização,
impedindo o desgaste do esmalte dentário e a formação de cáries.
A constituição dos cremes dentais está representada na tabela a seguir:
![](https://mannerjr.com.br/wp-content/uploads/2023/11/Anotacao-2023-11-21-122350-1.png)
Os abrasivos e os preventivos/ terapêuticos são os principais constituintes
responsáveis pela conservação dos dentes e prevenção das cáries. Os
abrasivos mais utilizados são o carbonato de cálcio (CaCO3) e o monoidrogenofosfato de cálcio (CaHPO4), eles são essenciais para uma limpeza adequada dos dentes por serem capazes de limpar e polir sua superfície. Alémdisso, são substâncias básicas que reagem com água formando íons OH-, o excesso desse íon favorece a reação de mineralização, formando a hidroxiapatia
e reconstituindo o esmalte do dente.
Por fim, os agentes terapêuticos são utilizados com objetivos específicos, seja
para o combate da hipersensibilidade dos dentes, para remover manchas ou
para o combate de cáries. Os principais agentes terapêuticos utilizados no
combate das cáries são os sais de flúor, como o fluoreto de sódio (NaF). O íon
fluoreto (F-) presente nesses sais é capaz de substituir a hidroxila da
hidroxiapatia, formando fluorapatia (Ca5F(PO4)3). Esse composto é menos
solúvel em água que a hidroxiapatia e não forma íons OH- ao dissociar, então
não sofre ataque dos ácidos e mantém o esmalte dos dentes intacto.
Referências:
BAPTISTA, Joice de A. et al. A química e a conservação dos dentes. Química
Nova, ano 2001, v. 13, ed. 1, p. 3-8, 10 abr. 2001. Disponível em:
http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc13/v13a01.pdf. Acesso em: 10 ago. 2022.
ESCOLA IMH. Creme dental (pasta de dente), 2013. Disponível em:
https://quimica1v3imh.blogspot.com/2013/11/creme-dental-pasta-de-dente.html.
Acesso em: 10 ago. 2022.
FOGAÇA, Jenifer. História e Composição Química do Creme Dental. [S. l.], 2017. Disponível em: https://www.manualdaquimica.com/curiosidades-quimica/historia-composicao-quimica-creme-dental.htm. Acesso em: 10 ago. 2022.
SANTOS, Vanessa. Estrutura básica dos dentes. [S. l.], 2015. Disponível em: https://www.biologianet.com/anatomia-fisiologia-animal/estrutura-basica-dos-
dentes.htm. Acesso em: 10 ago. 2022.